segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Além dos rótulos



Por vezes pego-me fazendo algum elogio exagerado a alguma mulher, seja por sua aparência ou personalidade, quando isso acontece perto de uma pessoa mais velha e digo: "essa mulher é tão... que eu beijava". Alguns me olham atravessado, outros acham graça do meu exagero, mas a pergunta principal sempre é: "mas você é lésbica?". E então começa uma conversa ou muitas vezes uma discussão infindável sobre minha sexualidade. 

O problema inicia quando digo que me relacionaria tranquilamente com uma mulher, os mais contrariados e raivosos bufam e reviram os olhos como se eu falasse um absurdo, e logo me rotulam de lésbica, porém me questionam sobre meu namoro com um homem e confirmo a afirmação, alguns mudam de ideia e me realocam como bissexual, outros não acreditam nisso, dizem que são pessoas confusas, mas confusos ficam eles quando falo que nunca sequer beijei uma mulher, a surpresa é geral e pares de olhos brilham, ficam felizes em me reencaixarem no grupo dos héteros.

O melhor fica para o final quando suas consciências já retomaram o descanso por rotularem mais um hétero. Conto que meu primeiro beijo foi com uma menina, me acusam de mentirosa, pois a afirmação acima desmente o que digo agora, porém eu tinha 4 ou 5 anos, brincávamos de casinha e cuidávamos de nossos filhos, que no caso eram bonecas. Já não sabem mais o que fazer comigo.

Se dependesse deles eu seria o que? Confusa, provavelmente. Na verdade, creio que quebro todo o "esquema" de rotulação deles, não sou nem um, nem outro ou sou todos, agora só Jesus nas causa pra ajudar essa pobre menina. A questão não é ser rotulado, pois todos nós somos e por vezes fazemos isso, o grande problema está em se restringir, viver atrás das grades de toda essa restrição. 

A sexualidade é algo muito simples e pertence apenas a nós e ninguém tem o direito de se intrometer nas nossas escolhas e desejos. Vejo casos de casais que são casados a anos e sentem vontade de algo novo, mas se trancam atrás das grades, por pura intromissão da sociedade, afinal, o que eles irão dizer? Já estão tão acostumados com esse sistema, que já não enxergam além do que lhes foi dito.

A vida que ao mesmo tempo é tão longa para milhares de experiencias novas, também é curtíssima para o marasmo, as restrições e julgamentos alheios. Vamos viver fora das grades, das margens, dos rótulos, vamos transbordar e ultrapassar as medidas, não temos espaços para rótulos, pois somos metamorfose ambulante. 

Gabriele Laco.

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