sexta-feira, 28 de agosto de 2015

[RESENHA] Seis segundos de atenção

(Autor: Humberto Gessinger - Editora: Belas Letras)


Olá, estou aqui mais uma vez para resenhar outro livro, que eu particularmente considero incrível. Não é novidade que eu sou fã de carteirinha do Gessinger, adoro os projetos, os álbuns, músicas, o Engenheiros e também o cabelo loiro deslumbrante.

Esse livro foi um empréstimo, já tinha lido um outro livro dele antes, chamado Nas Entrelinhas do Horizonte, e achei incrível e com esse não foi diferente. Enfim, vamos ao que interessa.

Queria começar dizendo que o Humberto é um ótimo escritor, tanto quanto músico, os ganchos que ele faz entre os temas e como consegue transformar coisas do cotidiano em um compilado de palavras que nos fazem refletir, é incrível.

"[...] E não adianta forçar a barra para adaptar a realidade às nossas teses, como quem quer encher o copo com mais água do que cabe nele. A elegância de uma explicação não garante sua eficácia. A necessidade de uma explicação não garante sua existência [...]"

Escreve de maneira simples, de modo que o entendimento é certeiro. Gessinger é gaúcho e eu como gaúcha, adoro o sotaque que ele emprega nas crônicas, com alguns "tris", "tchês" e "báhs" e também as inúmeras referências que esse gremista faz ao Rio Grande do Sul.

"[...] Nada me parece ser tão radicalmente definitivo na vida. Ok, ok tens razão: a morte é. Mas a maneira como nos relacionamos com ela, não. São várias as variáveis, sempre. E bastou terminar a frase anterior para que essas variáveis já sejam outras [...]"

O livro é composto por crônicas que abordam diversos temas, uma mistura de presente e passado, histórias pessoais e também relatos sobre algumas coisas da carreira, ele expõe seu ponto de vista com maestria, é muito interessante como ele coloca as coisas, como disse a cima, os ganchos que faz com os assuntos são ótimos.

"[...] A única coisa que podemos fazer com o tempo é escolher o que fazer com ele (cuidado: estaremos também escolhendo o que não fazer!). Mostre-me alguém que reclama não ter tempo pra nada e te mostrarei alguém que pensa ter tempo para tudo. Querer agarrar o mundo com as mãos é a melhor receita para ficar de mãos vazias [...]"

Um livro que fala com o leitor como um diálogo com um amigo, um bate e volta de leitura e pensamento. Com algumas partes cômicas e outras mais sérias, o livro conquista nas primeiras páginas, pois tem citações e reflexões inteligentes.

Contudo, sei que sou suspeita por falar do livro, já que sou fã do autor, mas com o olhar de leitora o livro continua sendo incrível e muito bem inscrito. Aos gaúchos que lerem, não se arrependeram nem um pouco, pelo contrário se sentirão em casa, e aos outros de outras regiões também não, como disse, o livro é muito bem escrito. Um livro nada cansativo e muito prazeroso de ler, uma super dica de leitura.

Espero que tenham gostado do minha resenha/relato de fã, e que eu tenha plantado em vocês as sementinha de curiosidade por esse livro. Até a próxima!

Gabriele Laco.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Indelicadeza alheia

(Louise Brooks)


Estou com uma xícara de café pousada na mesa a minha frente, a pouco estava em minhas mãos, e por muitíssimo pouco não dou um jeito de me afogar nela.

A indelicadeza do ser humano é tão brutal e sem qualquer limite, que quando acontece conosco é algo assustador e aterrorizante. Confesso que por muitas vezes fui indelicada, algumas vezes sem intenção, outras vezes por grosseria.

É difícil e complicado reagir a esses comentários, pergunto-me se devo dar uma resposta irônica e ainda mais indelicada ou se opto por manter a educação e calma. Na dúvida, fico variando entre as duas de acordo com o comentário e a pessoa.

Outra coisa que também me confunde, é como as pessoas fazem estardalhaço por nada e por algo alheio, sem qualquer vinculo com ela, o de hoje é: MEU CORTE NOVO DE CABELO. Ok, imaginem essas palavras sendo narrada pela voz do Cid Moreira.

Cortei o cabelo ao estilo Louise Brooks, se você não sabe quem é, paciência! Olha a indelicadeza ai gente! Enfim, ela é uma atriz dos anos 20, que possui um cabelo muito peculiar e lindo. Pois é, eu não sabia que causaria tanta polêmica e perguntas do tipo: "O que tu fez com o teu cabelo?" O que é isso na tua cabeça?"  

Também gosto de ver, aquelas pessoas que falam uma coisa, um elogio por exemplo, e fazem cara de quem chupou limão, o que contraria o que acabaram de dizer. Olha, sinceramente, não as julgo, por mais que não sejam bons interpretes, ao menos se deram trabalho de tentar ser gentis, diferente das outras pessoas que fazem cara de quem cheiro bosta e falam bosta.

As pessoas que conseguem ser sinceras e gentis ao mesmo tempo, os meus parabéns e gratidão eterna, pois foram uma ou duas pessoas hoje, que me fizeram desistir de me afogar no café (claro que não sabiam da minha vontade de suicídio), ao resto, olha nem tenho o que falar, só não disseminem comentários desprovidos de qualquer coisa útil, a coisas que não são da sua conta!

Enfim, meu café ainda esta pela metade e provavelmente frio, não vou bebe-lo mais, vai direto para o ralo da pia. As pessoas que me causaram e causam a tantas outras constrangimento e perplexidade, bom, de mim vocês perderam, continuem tentando, só não se engasguem com suas línguas venenosas.

Gabriele Laco.

[RESENHA] A arte de escrever


( Editora L&PM Editores, autor Schopenhauer,
tradutor Pedro Süssekind.)

Foi uma escolha meio sem querer, foi bater o olho e "é esse". Adquiri esse livro por meio de um projeto super legal que tem na minha cidade, um rodizio de livros, tu leva um e troca por outro. Bom, só pelo título já me chamou atenção, não é a obra mais famosa do Schopenhauer, até porquê, esse livro é composto por fragmentos de um livro muito maior e mais reconhecido dele, que se chama Parerga e Paralipomena. 

O livro é dividido em seis capítulos, que são separados por assuntos, são eles: Sobre a erudição e os eruditos; Pensar por si mesmo; Sobre a escrita e o estilo; Sobre a leitura e os livros; Sobre a linguagem e as palavras. Nesses poucos capítulos ele fala muita coisa e critica muita coisa, me abriu os olhos para novas perspectivas.

Schopenhauer, comenta durante o livro inteiro como é importante pensar por si mesmo, ele fala que os pensamentos são como uma mola e se forem sobrecarregados de pensamentos alheios, vindo de livros, a mola perde a elasticidade, ou seja, perdemos a capacidade de pensar por nós mesmos, nos acostumamos a percorrer trilhas já percorridas.

"[...] a leitura não passa de um substituto do pensamento próprio. Trata-se de um modo de deixar que seus pensamentos sejam conduzidos em andadeiras por outra pessoa. Além disso, muitos livros servem apenas para mostrar quantos caminhos falsos existem e como uma pessoa pode ser extraviada se resolver segui-los. Mas aquele que é conduzido pelo gênio, ou seja, que pensa por si mesmo, que pensa por vontade própria, de modo autêntico, possui a bússola para encontrar o caminho certo. Assim, uma pessoa deve ler quando a fonte dos seus pensamentos próprios seca, o que ocorre com bastante frequência mesmo entre as melhores cabeças. Por outro lado, renegar os pensamentos próprios, originais, para tomar um livro nas mãos é um pecado contra o Espírito Santo. É algo semelhante a fugir da natureza e do ar livre seja para visitar um herbário, seja para contemplar as belas regiões em gravuras [...]"

Ele crítica os eruditos que usam das informações dos livros, ou da escrita para ganhar dinheiro, os acha medíocres, pois diz, que jamais serão pessoas capazes de ser originais, já que pensam pela cabeça dos outros.

"[...] a peruca é o símbolo mais apropriado para ao erudito puro. Trata-se de homens que adornam as cabeça com uma rica massa de cabelo alheio porque carecem de cabelos próprios. Da mesma maneira, a erudição consiste num adorno com uma grande quantidade de pensamentos alheios, que evidentemente, em comparação com os fios provenientes do fundo e do solo mais próprios, não assentam de modo tão natural [...]"

Por outro lado, tem respeito pelos diletantes, pois esses exercem sua ciência ou arte por amor, por alegria, por mais que sejam ridicularizados por não prezarem o dinheiro, e sim, o prazer de exercer sua arte ou ciência.

Schopenhauer crítica muitíssimo o escritores alemães de sua época, mostra seu desagrado pelos novos escritores que não tem respeito a língua alemã, como não dominam ou conhecem a línguas que originaram tantas outras na Europa (latim e grega), crítica ainda mais os escritores que publicam livros por dinheiro.

"[...] antes de tudo, há dois tipos de escritores: aqueles que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever. Os primeiros tiveram pensamentos, ou fizeram experiências, que lhes parecem dignos de ser comunicados; os outros precisam de dinheiro e por isso escrevem, só por dinheiro [...]"

O livro e o escritor me impressionaram, ele escreve de uma maneira leve e nada cansativa, expõe suas ideias e pensamentos com muita clareza, sem milhões de palavras rebuscadas para camuflar falta de conteúdo ou para mostrar o quão intelectual é.

"[...] a verdade fica mais bonita nua, e a impressão que ela causa é mais profunda quanto mais simples for sua expressão[...]"

 Enfim, um livro realmente ótimo, indicado a todos, principalmente a quem gosta de escrever e de ótimos filósofos, espero que minhas singelas palavras expressem os preciosos pensamentos desse cara.

Gabriele Laco.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Ela

Suas mãos já não tremem ao chorar, mas ela ainda não sabe como não desidratou após tantas lágrimas derramadas. Falando assim, parece mais uma desilusão amorosa, mais um caso bobinho de namoro falido, no caso deles, eram muito mais que mero status de rede social, eram melhores amigos, confidentes e companheiros.
Naquele dia meio morrinha, ora chovia, ora o sol aparecia, eles se esbarraram no ônibus lotado, e o estado trágico do transporte público os fizeram rir, tagarelar e transformar aquele momento trágico em cômico, a ponto de trocar o número do celular. E naquele momento seus fios se entrelaçaram e deram um tremendo nó cego, sem qualquer chance de reversão, acredito que tenha sido o melhor momento e o pior da vida deles, pois com um grande amor, o efeito colateral é uma grande e dolorosa queda.
Talvez alguns digam: "que encontro mais sem graça, cadê o close no rosto deles e a música cafona romântica?". Então eu lhes respondo, respondo ainda citando uma música do meu amado Gessinger: "...não é o que se pode chamar de uma história original, mas pouco importa, é a vida real...". Exatamente, foi tão real que a morte existe nessa história, fria e sem coração, cortando seus fios, sem dó e nem piedade.
E de repente, um tiro os separou fisicamente, e de repente um celular foi o valor da vida dele, mas o bandido não sabia que nele havia muito dela, havia tanto, que uma parte dela foi enterrada com ele, em um belo dia de sol.
A dor que ela sentiu tornava o peito dela inflado de sofrimento e tristeza, a ponto de quase explodir, ela sentia sua cabeça pesada e as lágrimas fluíram constantemente, como nascente de rio.
Foi tão duro pra ela ter que separar as roupas, calçados e todos os objetos dele, que ela simplesmente não conseguiu, dar as coisas dele era como dar as poucas coisas que restaram como lembrança que um dia ele existiu naquele apartamento, não queria desimpregnar sua presença daquele local, queria ele de volta.
A vida dela desmoronou, passa os dias com as camisetas de banda dele, com o cabelo desgrenhado, não sei se bebe bebida alcoólica, mas anda sempre com o copo na mão, não julgo ela, é uma transição tão difícil, que se refugiar na bebida, talvez seja a unica saída momentânea.
As vezes chora debruçada no parapeito da janela, segurando o masso de cigarro inacabado dele ou apenas olhando para algum lugar vago, por vezes achei que fosse se jogar, provavelmente pense muito nisso.
Enquanto escrevo isso, e ela nem sonha, ela se debruça mais uma vez na janela, com a camiseta dos Smiths, fumando e olhando para algum lugar. Meu coração palpita mais uma vez, sem saber se vai pular ou não. Mas na dúvida, vou continuar observa-lá e a cuida-lá mesmo a distância, pela janela do meu apartamento que é defronte ao dela.

Gabriele Laco.


Casal Perfeito

O dia está chuvoso, não vou reclamar por que gosto. Não sei explicar exatamente, mas dias assim me acalmam, buscam no fundo da minha memória lembranças das quais não consigo lembrar, talvez não sejam lembranças desse corpo, dessa vida.
O cheiro do vento gelado e da chuva também me acalentam, gosto de deixar a janela aberta a noite e observar os pingos de chuva no vidro e como ela passa correndo pelas luzes dos postes, pigando dos telhados e acabando em poças d'água, deixando cheiro de terra molhada no ar.
Gosto quando cai a noite, de chegar em casa e tomar aquele banho quente, enquanto a água ferve para preparar o chá verde, depois por aquela camiseta velhinha e desbotada dos Simpsons junto com minhas velhas companheiras pantufas, pegar minhas cobertas e travesseiros com meu cheiro, cheiro de lar e sentar no sofá, pegar aquele bom livro novo ou aquele antigo e calejado de tanto ser grifado, enquanto meus gatos se enroscam aos pés das cobertas.
Enquanto o mundo frenético gira sem parar, enquanto cabeças frenéticas giram sem parar, eu entro no meu mundo. Com a chuva batendo no telhado, com meus gatos, chá e cobertas, eu pego minha passagem para outro mundo, que alguns chamam de livros.

Gabriele Laco.