terça-feira, 28 de abril de 2015

Aquela mulher

Ela tinha um leve cheiro gostoso de cigarro, cheiro que se fundia ao seu próprio e tornava tudo tão mais aconchegante, tinha sobrancelhas grossas, pernas e cabelos longos.

Ela mexeu comigo, me balançou, como aquelas poucas e raras pessoas que é preciso apenas meia duzia de palavras e tu te flagra com sorriso largo e olhos brilhando, pasmo como uma criança perante a um brinquedo novo, no meu caso, estarrecido com tanta inteligencia e beleza. Aquela mulher era de um brilho próprio, era tão ela, se destacava por não ser igual a tantas por ai.

Fiz meu julgamento superficial, mas vi, talvez com minha miopia distorcendo as coisas, uma tristeza, não exposta explicitamente, mas discreta e espontânea como algo fixo e rotineiro, mas não sei o que se espreita lá no fundo, tristeza ou felicidade, sombra ou luz...

Eu mera criança queria apenas que aquela mulher me pegasse pela mão e me levasse junto dela, por onde ela fosse, pouco me importava o lugar, queria sua companhia para uma vida inteira ou até meu ponto de ônibus.

Que tudo acabasse dali à 60 anos em um velório ou com um aceno de mão de dentro do meu ônibus.

Gabriele Laco.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Eu lírico

Cabelos loiros escuros arrepiados, braços compridos, costas estreitas, mãos e pés gigantes, unhas pequenas, pernas grandes, um sorriso largo, lindo e bobo, os olhos são orbitas cor de mel que me adoçam, a levantada de sobrancelha que tem história, minha obsessão por beijar teu queixo, a ponta do nariz e pescoço. Viu? Não consigo manter uma coerência de fatos quando se trata de ti, me vem milhões de lembranças na mente, impossível não sorrir e sentir saudade.
Sabe aquela musica que diz assim "me disseram que você estava chorando e foi então que eu percebi como lhe quero tanto"? Pois é, com a única exceção que ninguém me contou, eu vi teus olhos tão grandes, marejados e vermelhos, envoltos em uma confusão e talvez medo. Agora sem firula, falando sério, te ver daquela maneira me desarmou, eu só queria te envolver nos meus minúsculos braços e sentir teu calor no meu corpo, até toda confusão e todo resto passasse, eu percebi que te quero muito mais que imaginava. 
Naquele banco de praça, com todos aqueles pais com seus filhos, aquele casal que parecia tão feliz com a menininha ruiva eu reforcei minha ideia de ter um futuro ao teu lado, mas por alguns minutos abandonei tudo, bifurquei os planos e tive vontade de ir embora depois de ouvir tantos "não sei", eu estava ali, dando a cara a tapa e me transformando pra ti, mudando, querendo ser melhor e só ouvia "não sei". Depois de todo aquele papo sem pé e nem cabeça, sem chegar em algum lugar, sem a interpretação do outro, conseguimos desemaranhar o fio e dar as mãos em meio disso tudo. As coisas não foram mais as mesmas e tu sabe disso, mas tudo isso me fortaleceu e me trouxe mais a razão.
Eu penso em ti quase o tempo todo, penso não pensando, isso faz algum sentido? E quando chega a noite e eu pego o ônibus e venho pra casa é tu que quero encontrar, te abraçar e contar como foi o dia, rir das bobagens que falamos, deitar no sofá apertado pra ver Yes, Man! adormecer contigo me fazendo cafuné e acordar no meio da noite e te observar um tempo enquanto tu dorme, penso que sou sortuda por te encontrar tão cedo e nos darmos tão bem, as diferenças fazem parte, chato seria se fossemos iguais, mesmas ideias, nada a acrescentar, fechados em um mundinho. 
E naquele banco de praça em meio a turbilhão de coisas, quando tu olhou nos meus olhos e disse que me amava, que não era pra duvidar disso, eu só queria dizer que não duvido, nunca duvidei, desde o primeiro eu te amo. 

Eu te amo!

Gabriele Laco

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Repulsa

Repulsa. É a palavra que me cabe agora.
Estranho é sentir isso agora, logo agora que as coisas estão tão boas. Talvez seja por isso, por causa que as coisas estão nos conformes que sinto esses sentimentos repulsivos, querendo expelir as coisas boas da minha vida, antes que aconteça algo ruim.
E eu como ser-humano burro e ignorante, que não sabe aproveitar e agradecer as coisas boas que estão acontecendo, que procura problemas, defeitos onde não existe. Por fim, enlouqueço com esse sentimento repulsivo.
Enquanto eu não me aceitar, enquanto eu não for o suficiente pra mim, creio, que não conseguirei ser de alguém por inteira.

Mas por quanto tempo irão me esperar? Quanto tempo vai levar essa aceitação? 

Gabriele  Laco

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Esperar, esperar, esperar...

Cheguei mais cedo em casa, tomei banho e um pouco de café, ouvi um pouco as tuas músicas e fiquei a tua espera. Esperei, esperei, esperei... Parecia que a hora não passava, tinha algo errado com o relógio, não era possível os ponteiros se moverem tão devagar.
Cansei. Deitei na cama e senti teu cheiro no travesseiro e foi automático sorrir, tu me arranca sorrisos melosos e bobos mesmo a quilômetros de distancia. Me senti abraçada no teu cheiro, como se teus braços me envolvessem com todo carinho e ternura de sempre, foi um aconchego tão gostoso e reconfortante.
Meu coração deu uma minimizada na saudade, mas ansiedade de te ver entrando pela porta e vindo me abraçar e me beijar continuava crescente dentro de mim. Me sinto tão boba sentindo saudade sendo que te vi a poucas horas, mas eu adoro dividir os fatos do meu dia contigo e fazer graça com coisas bobas e acabar rindo até a barriga doer, mas é inevitável não te querer, não querer estar perto. Acredito que o lado bom de toda essa saudade que não assola apenas a mim -creio eu-, é que aproveito meu tempo contigo ao máximo, até o ultimo segundo juntos, pois sei que nosso tempo é curto e qualquer desperdício é um ponto a mais pra saudade.
Então, aguardo te ver entrando, lindo como todos os dias por essa porta para te encher de afagos, carinhos e muitos beijos e abraços.

Gabriele Laco