terça-feira, 28 de abril de 2015

Aquela mulher

Ela tinha um leve cheiro gostoso de cigarro, cheiro que se fundia ao seu próprio e tornava tudo tão mais aconchegante, tinha sobrancelhas grossas, pernas e cabelos longos.

Ela mexeu comigo, me balançou, como aquelas poucas e raras pessoas que é preciso apenas meia duzia de palavras e tu te flagra com sorriso largo e olhos brilhando, pasmo como uma criança perante a um brinquedo novo, no meu caso, estarrecido com tanta inteligencia e beleza. Aquela mulher era de um brilho próprio, era tão ela, se destacava por não ser igual a tantas por ai.

Fiz meu julgamento superficial, mas vi, talvez com minha miopia distorcendo as coisas, uma tristeza, não exposta explicitamente, mas discreta e espontânea como algo fixo e rotineiro, mas não sei o que se espreita lá no fundo, tristeza ou felicidade, sombra ou luz...

Eu mera criança queria apenas que aquela mulher me pegasse pela mão e me levasse junto dela, por onde ela fosse, pouco me importava o lugar, queria sua companhia para uma vida inteira ou até meu ponto de ônibus.

Que tudo acabasse dali à 60 anos em um velório ou com um aceno de mão de dentro do meu ônibus.

Gabriele Laco.
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