Os amigos que tinha eram as meninas que se criaram comigo por sermos vizinhas, uma turminha de umas cinco meninas, as vezes o grupo crescia quando alguma criança se mudava pra vizinhança. Vez ou outra eu fazia um "melhor amigo", normalmente eram crianças mais velhas que eu e também meninos, eu adorava conversar sobre tudo, e as crianças mais velhas eram um pouco mais maduras para isso.
Fui uma criança e uma pré-adolescente muito retraída, desconfiada, tinha um pé atras com todos, o medo de demonstrar meus sentimentos era tão grande que me consumia. Por conta disso, não tinha amigos fiéis, de compartilhar segredos e dormir um na casa do outro, acabei fazendo amigos por cada série que passava, companheiros de trabalhos e intervalo, eram sempre o pessoal que entrava novo para minha sala, os repetentes ou esquisitões.
Então, passei parte da minha vida, do início dela, compartilhando as coisas comigo mesmo, desenvolvendo meus pensamentos e teorias malucas, rabiscando papéis, devorando livros e músicas. Aprendi a me virar sozinha, por ser uma pessoa muito fechada, não contava com nada além de mim, digo que me tornei desconfiada e durante muito tempo achei que todas as pessoas fossem me trair, pois observava tanto o relacionamento humano e via quanta traição e mentira havia.
Mas por traz de toda rebeldia, tinha tristeza, a necessidade de querer colo e atenção, eu precisava gritar pro mundo o que eu sentia, alguém tinha que se importar com o que eu sentia. Me perguntava o porquê daquilo, qual o motivo de tanta solidão.
Uma luz pairo sobre mim e a curto prazo me presenteou com uma ouvinte, compartilhávamos os sentimentos, dores e alegrias mais profundas. A pobre de atenção aqui, se agarrou na barra da saia e quebrou a cara. Ainda não sei porquê que a vida faz isso, ela te da o gostinho da felicidade e arranca tudo sem avisar. Os caminhos se bifurcaram, e o meu coração chorou e doeu por meses, mas nada é eterno, não é mesmo? As vezes acho que não era reciproco, sempre me doei muito, tentei ser a melhor, mas talvez não tenha sido a melhor para aquela pessoa.
A vida foi passando, já não sou como antes, a gente amadurece e aprende com as coisas que passaram. Hoje já não sou só minha, minhas dores e feridas passaram, só restam cicatrizes e uma dorzinha que avisa quando vai chover. Me dividi, me joguei do barranco e foi quando perdi meu medo, com sorte, tinha alguém com muito amor me esperando de braços abertos para me pegar, e do seu abraço fiz meu ninho, e minha morada.
Solidão não é algo bom, dói, uma das dores mais profundas, e não existe no mundo alguém que cure isso além da gente, no momento que nos arriscamos e tentamos ela começa ir embora, até voarmos para o ninho de alguém e o resto de tristeza ser preenchido com amor.
Gabriele Laco.
0 comentários:
Postar um comentário