quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Solidão

Eu fui aquele tipo de criança tachada como rabugenta, chata, antipática e principalmente antissocial, minha mãe me apelidou de "velha", pois é "velha". Eu preferia brincar sozinha, ficar folheando meus livrinhos, daqueles kits que o vendedores passam nas escolas oferecendo, brincar com minhas barbies e adorava jogar Mario no meu polystation, na tv em preto em branco do meu pai, de muito menos que 14 polegadas.

Os amigos que tinha eram as meninas que se criaram comigo por sermos vizinhas, uma turminha de umas cinco meninas, as vezes o grupo crescia quando alguma criança se mudava pra vizinhança. Vez ou outra eu fazia um "melhor amigo", normalmente eram crianças mais velhas que eu e também meninos, eu adorava conversar sobre tudo, e as crianças mais velhas eram um pouco mais maduras para isso.

Fui uma criança e uma pré-adolescente muito retraída, desconfiada, tinha um pé atras com todos, o medo de demonstrar meus sentimentos era tão grande que me consumia. Por conta disso, não tinha amigos fiéis, de compartilhar segredos e dormir um na casa do outro, acabei fazendo amigos por cada série que passava, companheiros de trabalhos e intervalo, eram sempre o pessoal que entrava novo para minha sala, os repetentes ou esquisitões. 

Então, passei parte da minha vida, do início dela, compartilhando as coisas comigo mesmo, desenvolvendo meus pensamentos e teorias malucas, rabiscando papéis, devorando livros e músicas. Aprendi a me virar sozinha, por ser uma pessoa muito fechada, não contava com nada além de mim, digo que me tornei desconfiada e durante muito tempo achei que todas as pessoas fossem me trair, pois observava tanto o relacionamento humano e via quanta traição e mentira havia. 

Mas por traz de toda rebeldia, tinha tristeza, a necessidade de querer colo e atenção, eu precisava gritar pro mundo o que eu sentia, alguém tinha que se importar com o que eu sentia. Me perguntava o porquê daquilo, qual o motivo de tanta solidão.

Uma luz pairo sobre mim e a curto prazo me presenteou com uma ouvinte, compartilhávamos os sentimentos, dores e alegrias mais profundas. A pobre de atenção aqui, se agarrou na barra da saia e quebrou a cara. Ainda não sei porquê que a vida faz isso, ela te da o gostinho da felicidade e arranca tudo sem avisar. Os caminhos se bifurcaram, e o meu coração chorou e doeu por meses, mas nada é eterno, não é mesmo? As vezes acho que não era reciproco, sempre me doei muito, tentei ser a melhor, mas talvez não tenha sido a melhor para aquela pessoa. 

A vida foi passando, já não sou como antes, a gente amadurece e aprende com as coisas que passaram. Hoje já não sou só minha, minhas dores e feridas passaram, só restam cicatrizes e uma dorzinha que avisa quando vai chover. Me dividi, me joguei do barranco e foi quando perdi meu medo, com sorte, tinha alguém com muito amor me esperando de braços abertos para me pegar, e do seu abraço fiz meu ninho, e minha morada.

Solidão não é algo bom, dói, uma das dores mais profundas, e não existe no mundo alguém que cure isso além da gente, no momento que nos arriscamos e tentamos ela começa ir embora, até voarmos para o ninho de alguém e o resto de tristeza ser preenchido com amor.

Gabriele Laco.

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