domingo, 15 de fevereiro de 2015

José e a vida

José acordou de supetão de um péssimo pesadelo, no meio de uma noite quente de janeiro, com o coração disparado e com a testa pigando suor. Contudo, José não quis levantar-se, pelo contrario quis ficar ali, deitado, olhando para o teto sujo e escuro do seu minusculo quarto em um cortiço no subúrbio.

Não tinha vontade de levantar-se, tampouco dormir de novo. Ele não aguentava mais aquela vida, acordar 5:30 da manhã todos os dias, ir trabalhar em um emprego que odiava e que nem de longe haveria sido o sonho dele, e muito menos morar naquele minusculo quarto sozinho. Entretanto, por mais que ele odiasse o rumo que a vida tomou, ele crera que não era capaz de mudar mais o caminho de sua vida, achava-se um tremendo idoso para tal coisa. 

Porém hoje ele acordou e sentiu-se diferente, como se algo naquele pesadelo horroroso tivesse despertado dentro dele a luzinha da vida, que a muito tempo havia se apagado dentro dele. Pois ele não vivia, apenas sobrevivia, aquilo não era vida.

Após horas deitado na cama, observando o quarto escuro, e pensando na vida, lembrando do passado, quando ele julgava-se um pouquinho feliz. Pensava no seu presente também e perguntava-se: "Meu Deus, o que fiz da minha vida?". E com os olhos marejados de lágrimas se levantou cambaleando da cama e foi até um armário onde havia cartas e fotos da sua juventude, cartas apaixonadas da mulher da sua vida, que ele ainda amava com todo seu coração, mesmo após aqueles 15 anos separados pelos caprichos da vida, fotos de seus amigos e família. 

José levantou-se do chão com total determinação, pegou as cartas e fotos caídas aos seus pés, olhou-se no espelho e começou a perguntar-se em voz alta, ainda com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto ossudo:

"Já nem sei que eu sou, afinal, qual minha identidade? Foi soterrada a tanto tempo por uma avalanche de amargura, tornando a vida infeliz. Já me desconheço, quem é esse dublê que habita meu corpo?" - e começou a sorrir e conversar com o seu reflexo, como uma criança tendo uma epifania sobre algo tão bobo e óbvio - "Ah, meu velho, temos apenas 50 anos, nos tornamos velhos de alma, agora vamos clamar e reivindicar por juventude e liberdade. pois o tempo voa e já perdemos tanto. Está na hora de perder o medo e ir atrás dela, ver aquele sorriso novamente, e içar velas para novos ventos.

E com toda determinação de um nova vida e felicidade dos sonhos renovados que se reinstalava em seu coração e alma, José foi tomar um longo banho, botou sua melhor roupa, fez as malas e foi em busca dos seus sonhos. 

Esperou até amanhecer e saiu do seu quarto, desceu as escadas com um sorriso largo e cantarolando um samba de raiz, acabou encontrando a vizinha saindo de seu apartamento, uma moça muito bonita que morava o lado do seu apartamento:

- Bom dia Seu José, vejo que o senhor está feliz! Aonde vai com tanta animação?
- Bom dia bela Marieta! Sim, senhorita, estou muito feliz! Estou indo em busca dos meus sonhos, estou indo ser feliz!

E com um sorriso de orelha a orelha, sentiu uma pontada pungente no coração e caiu aos pés de Marieta. A ultima coisa que viu com seus olhos que expressavam a falta de entendimento do que acontecia, foi Marieta aos prantos tentando o reanimar, mas já era tarde demais, José já tinha partido para sem dúvida nenhuma, a maior viajem que poderia fazer.

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